Alma de Serpente
Exposição Sinais do Tempo Jornadas Teológicas Braga
140 X 100
Papel Fine Art em moldura dupla de faia
Poucos serão tão carregados de simbolismo. As suas características foram sendo apropriadas e re-apropriadas pela humanidade na construção contínua de analogias individuais e sociais que justificam o nosso estatuto como ser superior. Tornou-se num contentor de mitologias de alegria
e bem-estar, de catástrofe e destruição. Nesse movimento longo e inconstante, num ziguezaguear impulsionado pela natureza errante do humano, foi visto como mensageiro de uma via alterna- tiva, como vilão injustiçado numa tragédia à qual é de todo alheio, ou, agora, como meta-ícone estático de tudo o que antes foi. Está de tal forma entrançado na nossa cultura que já não fascina nem assusta. A faísca selvagem, crítica, imprevisível que reclamava fascínio afogou-se num conforto sintético entorpecedor; basta-lhe seguir todos os outros, esperar no seu lugar, para lhe ser dado o suficiente para que fique como está até deixar de ser.
Esta evocação ambígua é uma referência ao papel das heroínas, das santas, dos lunáticos, das filó- sofas, dos líderes críticos e da ausência progressiva destes numa sociedade global entorpecida por conforto e medo.
Few things are as loaded with symbolism. Its characteristics have been appropriated and re-appropriated by humanity in the continuous construction of individual and social analogies that justify our status as a superior being. It has become a container of mythologies of joy and well-being, of catastrophe and destruction. In this long and inconstant movement, zigzagging driven by the wandering nature of humans, it has been seen as a messenger of an alternative path, as an unfairly maligned villain in a tragedy to which it is entirely unrelated, or now, as a meta-icon static of everything that was before. It is so intertwined in our culture that it no longer fascinates or scares. The wild, critical, unpredictable spark that demanded fascination drowned in a numbing synthetic comfort; it is enough to follow everyone else, wait in its place, to be given enough to stay as it is until it stops being.
This ambiguous evocation is a reference to the role of heroines, saints, lunatics, philosophers, critical leaders, and the progressive absence of these in a global society numbed by comfort and fear.
Texto de Francisco Moura Veiga